A AEP lançou um gabinete de apoio aos empresários. Exportadoras reforçaram stocks no Reino Unido e todos esperam um acordo até ao final do ano. Já há filas de camiões dos dois lados do Canal da Mancha.
Éuma situação que se vai repetindo a cada passo desde 2016. Passados 1611 dias após o referendo que determinou o brexit e 11 meses depois da separação oficial, as negociações entre a União Europeia (UE) e o Reino Unido (RU) estão novamente num impasse e, desta vez, encalharam nas pescas - o dossier mais espinhoso de todo o processo.
Ambas as partes estão em contrarrelógio para que às 00.00 do dia 31 de dezembro exista um entendimento que evite cair nas regras da Organização Mundial do Comércio com o regresso das tarifas alfandegárias e dos longos processos burocráticos. O processo é de tal forma complexo que se ilustra com o número de tratados que o Reino Unido já negociou ou ainda tem de negociar.
"Estar pronto para o melhor e preparar-se para o pior", resume o presidente da AICEP, Luís Castro Henriques, que tem estado em contacto direto com as empresas para ajudar em qualquer dos cenários.
A preparação já leva meses, ou mesmo anos. "A recomendação que fizemos aos associados foi para tentarem antecipar a entrega de mercadoria prevista para janeiro, fevereiro e março", adiantou ao Dinheiro Vivo o presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, Mário Jorge Morgado, que espera "que as coisas se resolvam porque as empresas fazem investimentos e a grande preocupação é com o que vai acontecer depois no dia 1 de janeiro".
Também a antecipar possíveis perturbações na cadeia de logística, a Fladgate Partnership, que detém marcas de vinho do Porto como Taylor's ou Croft, tem optado por "reforçar stocks no mercado. Desde há dois anos que é assim", assume Ana Margarida Morgado. Apesar das incertezas e do ano marcado pela pandemia, as vendas de vinho do Porto têm "tido um bom comportamento, beneficiando de um consumo mais em casa", indica.
"Estamos apreensivos com o que vai acontecer em janeiro", confessa Paulo Gonçalves da Associação Portuguesa do Calçado - APPICAPS. "A expectativa é que não existam alterações significativas", aponta o porta-voz da indústria do calçado.
Para já, a poucos dias do fim do prazo, empresários, associações e governos, apostam tudo num acordo, nem que seja provisório, a cobrir os primeiros meses do novo ano. E há planos de contingência para evitar o mínimo de problemas, sobretudo na cadeia logística.
A Associação Empresarial de Portugal (AEP) constituiu uma equipa para ajudar as empresas em caso de não acordo. "Teremos uma equipa a trabalhar exclusivamente na análise de todas as questões relacionadas com esta possibilidade ", revela ao Dinheiro Vivo o presidente da AEP. "A equipa é composta sobretudo por juristas e elementos do departamento de estudos e estratégia", para apoiar em questões sobre "mobilidade de pessoas, mercadorias e todo o tipo de bens", indica Luís Miguel Ribeiro.
Fonte: dinheirovivo.pt